Thursday, October 2, 2008

Um dia como qualquer outro...

Sábado dia 20/08 era para ter sido um dia como qualquer outro, acordei cedo, fui buscar pães fresquinhos, aproveitei e comprei ingredientes para fazer uma pasta á Carbonara.

Logo em seguida chegaram minha amiga, seu marido e o filhinho, tinhamos combinado que ela limparia o porão/adega.

Por volta das 11.30...estava lá fora e senti algo quente entre as pernas, pensei comigo...caraca...fiz xixi na calça...corri para o banheiro mas acabei vendo através de um armário de vidro que temos na sala que a calça estava com uma mancha escura...a qual constatei no banheiro ser uma mistura de água e sangue.

Eu não sei explicar o que senti naquela hora, gritei Cuty de lá debaixo e ele desceu as escadas atônito...marido da minha amiga apareceu com uma toalha creio eu e me deitei no sofá na espera da obstetriz...

Quando esta chegou me examinou, ouviu o coraçãozinho de Louise e disse-nos que precisamos ir imediatamente para o hospital em Venlo, nesse meio tempo telefonou para lá e nesse meio tempo minha cabeça já estava a mil, o choro veio...o desespero bateu...

Rumamos então para Venlo, lembro-me que vestia coisas que foram jogadas escadas a baixo, mas nessas horas que importância faz uma roupa???



Chegamos no hospital, não me lembro a hora...nada...tomei uma injeção, fiquei de repousoe logo em seguida fui encaminhada para a sala da ginecologista para uma echo...lá começaria o pesadelo.



Durante essa echo foi constatado que Louise encontrava-se em posiçao de parto, com a cabecinha virada para baixo (eu me emociono cada vez que lembro disso) em cima do cordão umbilical e eu tinha uma dilatação de 2 cm.



A médica foi direta e não mediu palavras em dizer que era uma situação de risco, pois se Louise "nascesse" de parto normal naquele momento poderia se enroscar no cordão umbilical e nem preciso dizer o que poderia acontecer, por outro lado teria que fazer algo para que nossa pequena mudasse de posição já que se ela ficasse nessa posição Louise deixaria de receber oxigênio e alimentos..



Maastricht



A médica disse nos então que deveríamos ir imediatamente para Maastricht.Nesse momento veio-me o choro...aquele choro dolorido, do medo, do desconhecido...da perda..

Levaram-nos para sala e fiquei na cama novamente, colocaram uma infusão com anti-contrações e creio que soro....tomei uma das duas injeções para os pulmões da Louise amadurecerem e logo em seguida os paramédicos da ambulância chegaram.



Me levaram imobilizada naquelas macas e na saída do hospital ligaram a sirene...então o desespero se apossou de mim, Cuty vinha atrás de carro e disse-me que pensou a mesma coisa,que a situação era mais grave do que pensávamos.



Graças a Deus desligaram e então o médico me confortou dizendo que não era nada, que era pra ficar tranquila, e que se fosse algo gravíssimo eles nem teriam me encaminhado a Maastricht.



Nunca o trecho Venlo-Maastricht demorou tanto, deitada na ambulância eu rezava, rezava..e tentava entender o que estava acontecendo.



Nesse meio tempo a família do meu marido foi avisada e quando cheguei em Maastricht no Hospital Acadêmico, vi o rosto conhecido da minha cunhada...então naquele momento eu não aguentei e caí no choro, estava com tanto medo...tanto medo de perder a minha Louise.



Fomos levadas para um dos verloskamer, colocaram o CTG na minha barriga para controlar os batimentos cardíacos da Louise e para controlar minhas contrações, mas graças a Deus estas eu não tive...a partir daí...lembro-me de tudo, mas não claramente...é como se eu não estivesse lá...muito estranho.



Lembro-me que veio uma ginecologista e fez uma echo, e viram que tudo estava bem, Louisew continuava graças a Deus ali firme e forte e todos os orgãos estavam funcionado, líquido que perdi foi mínimo e o sangramento idem.



Mas pelos exames foi possível ver que a bolsa estava digamos vísivel, e esse era um grande risco.

Devíamos escolher entre fazer uma cerclagem ou não.



*Cerclagem



Geralmente é feita em mulheres que tem incompetência instimo cervical, o que acontece é que quando se esta grávida o útero não consegue segurar o bebê ele dilata assim que o bebê ganha um certo peso e o bebê nasce prematuro, a cerclagem costura o útero e ele permanece fechado até o 9º mês de gestação, vc pode levar uma vida normal desde que não tenha contrações, não deve ter relação sexual pois pode infeccionar o ponto ai vc tem que retirar o ponto e perde o bebê, geralmente são dois pontos transversais feitos no 3º mês de gestação, corre-se o risco de romper a bolsa aminiotica durante a cirurgia é aplicada a anestesia raquidiana.



Decisão



O risco então era que eu teria que me preparar, aliás nos preparar para uma cesariana, pois durante a cirurgia caso algo desse errado a bolsa poderia estourar e imediatemente teriam que fazer uma cesariana, durante a cirurgia eles não poderiam tocar a bolsa, pois caso isso acontecesse os riscos de uma infecção eram grandes.



Pediatra



Um pediatra foi enviado depois do ginecologista para nos dizer dos riscos que Louise correria caso nascesse, afinal ela estava então com 26 semanas e 4 dias, e para um prematuro os riscos são vários, afinal os orgãos não estão preparados e muita coisa está em jogo.

Minha cunhada que esteve conosco em todos os momentos é orientadora particular de crianças com problemas mentais, então vcs imaginam como deve ter sido toda essa conversa com o pediatra.



Depois de conversar com o pediatra o ginecologista voltou e queria ouvir de nós o que tínhamos decidido.

Optamos por fazer a cerclagem naquele momento.Aliás naquele momento o que mais importava é que nossa pequena ficasse bem, que ficasse quietinha dentro da barriga.

Lembro-me que eram em torno de 18:00 horas da tarde...para nós parecíamos que estávamos ali há mais de séculos.



Tudo decidido, haviam ainda 4 pessoas na minha frente para serem operadas, teríamos que esperar até 00:00 hrs, que nesse momento a sala de cirurgia estaria pronta para mim.



Medo



Cuty deveria ficar com roupa cirúrgica, eu deveria tomar uma (rugprik) e ficar consciente já que a cirugia poderia se transformar em parto e para trabalhar psicologicamente disseram-me que assim seria melhor.



Na verdade, na hora do medo...do desespero...eu preferia a geral, era uma fuga para mim, acordar e pensar que tudo não tinha passado de um sonho, mas essa escolha estava longe...



Eu tinha muita sede, muita sede...mas meus últimos 3 goles d'água foram na ambulância, á caminho do hospital...lá eles molhavam somente meus lábios...



A cirurgia



Geralmente as mulheres vao para o centro cirúrgico para terem um parto, eu fui para segurar o parto...no caminho do centro cirúrgico Marcel esteve do meu lado, quando me levaram para a salinha de espera...me despedi dele, o medo que eu tinha era tão grande, a dor que eu sentia no meu peito era tão forte...o medo de dar algo errado...de estar "sozinha" (entre aspas mesmo) em outro país é algo que não consigo explicar.



O que me consolava é que havia falado com minha mãe antes disso e falar com ela foi algo que me deixou calma.



Ás 00:00 tomei então a anestesia, e logo tudo adormeceu da cintura para baixo, então eles tentavam achar uma posição em que ficasse para colocar o tal anel no colo do útero, tentaram vários jeitos mas Louise continuava lá na posição de nascimento em cima do cordão umbilical, diferente dessa foto...



A solução foi me virarem literalmente de cabeça para baixo, fiquei em posição vertical com as pernas para cima e a cabeça para baixo e graças a Deus...Louise "desceu" e o anel (band) foi colocado com sucesso.

A anestesista (uma belga) ficou o tempo todo falando comigo, tive um pouco de hiperventilação, pensei que ia morrer...mas as 00:30 do dia 21/09 a cirugia terminou com sucesso, agora era rezar para não ter nenhuma infecção.

Voltei para o meu quarto as 02.00 da madrugada e já me enfiaram a sonda na bexiga, e ás 03.00 da manhã estávamos eu e meu marido...sozinhos no quarto do hospital.


Durante a madrugada tive dores, fiquei morrendo de medo, mas tudo correu bem...fizemos vários CTG's, 3 vezes ao dia controlávamos os batimentos cardíacos de nossa pequena...
Na segunda feira fui transferida para outra seçao do hospital, e aos poucos fui progredindo, a sonda foi tirada, podia ir ao banheiro sozinha, depois podia andar no corredor e depois podia descer até no restaurante do hospital.

Cada progresso, cada dia que Louise fica na minha barriga segundo o médico é um ganho, uma vitória....eu choro cada vez que penso se algo tivesse dado errado, desde então tenho pesadelos e acordo a noite suada, com a roupa molhada, assustada..é o medo, a insegurança.


De agora em diante...

Tenho que ficar de repouso, não posso pegar peso, posso cozinhar (ebaaa)...e tenho que ficar atenta a qualquer dorzinha (já que não sei o que são dores de contrações) e "ouvir meu corpo".
Tenho consulta semana que vem e então veremos como será minha vida daqui pra frente, a tal "band" terei que tirá-la se a bolsa estourar, se sentir contrações ou antes do parto.

A vida...

Maastricht tem o melhor centro para pré maturos da Holanda, fui tratada muito bem nesses 9 dias que fiquei por lá, ficar em hospital não é bom em lugar nenhum, mas num país estranho pior ainda.

A verdade é que não somos nada no mundo e algumas pessoas só darão conta disso quando forem parar num hospital e ficar dependente dos outros.

Ali não importa nada quem você é, a sua posiçào social, o que você tem ou não...você será mais uma paciente, lá voce ê verá quem são seus amigos, você irá ver quantos amigos você tem e dará mais valor a tudo. Até mesmo ao xixizinho básico...


Agradecimento...

Gostaria de agradecer a Susana que me telefonou, a Eliana pelo carinho, a Elis (sossega o facho mulher)enfim a todo mundo que torceu por mim, em especial a Dinda Márcia (Floortje) que me telefonou, mandou sms e domingo saiu do conforto do lar doce lar para passar uma horinha comigo...lá no hospital, junto com o marido.

O que posso lhe dizer dona Márcia??? Obrigada??? Obrigada é pouco, diante de tudo que fez por nós, como você disse pena que passou rápido.

Obrigada a todo mundo, do fundo da alma....em meu nome, en nome do Cuty e da Louise...
Falando em Louise ela está com uma força nas pernocas que me surpreende e me faz rir...é cada chute...ahahaha...um mais forte que outro.

Beijos

3 comments:

Unknown said...

Nossa Joelma, estou aqui imaginando o que voce passou e ate me emociono.
Gracas a Deus vc e sua bebe estao bem!
Estar "sozinha" num hospital, em outro pais nao e nada facil, ainda mais numa situacao tao delicada como essa!
Voce e muito forte!!!
Que Deus abencoe vc e sua familia e que vc tenha o resto de sua gestacao tranquila.
Muita LUZ.
Beijo
Andreya

Bibi said...

Jo, manda teu tel pra mim porfavor! Quero falar contigo!

Sheila said...

Olá Joelma,

Estou torcendo muuuuito por vc e pela pequena Louise. Tudo vai dar certo!!!!!

Imagino o susto, o mêdo e a insegurança que vcs passaram.

Muita sorte!

Um abraço,

Sheila