Sunday, December 19, 2010

Choque cultural

O conceito de choque cultural foi cunhado pela primeira vez em 1954 como sendo a consequência do esforço e da ansiedade resultante do contato com uma nova cultura além do sentimento de perda, confusão e impotência resultante da perda das informações culturais e regras sociais previamente acostumadas.

O processo do choque cultural e sua subsequente solução podem ser sumarizados em quatro estágios sequenciais e cíclicos. O ciclo pode ser repetido conforme novas crises são encaradas e requeiram novos ajustes:

1.Fase da lua-de-mel ou turista
2.Fase da crise ou choque cultural
3.Fase do ajuste, reorientação e recuperação
4.Fase da adaptação, resolução e aculturação

A fase da lua-de-mel é a experiência típica de quem está em férias ou numa breve viagem de negócios. É caracterizada pelo interesse, euforia, expectativas positivas e idealizações sobre a nova cultura. As diferenças são excitantes e interessantes. Mesmo que possam existir ansiedade e stress, eles tendem a ser interpretados positivamente.

A fase da crise pode começar imediatamente (no momento que existe o contato com a nova cultura) ou, mais normalmente, surge dentro de algumas semanas ou meses. Ela pode começar como uma grande crise ou em uma série de problemas que vão se acumulando. As coisas começam a dar errado, pequenas dificuldades viram problemas gigantescos e as diferenças culturais se tornam irritantes. É comum o sentimento crescente de desapontamento, impaciência, frustração e outras tensões. A vida não faz mais sentido e é comum o sentimento de desilusão, confusão e rejeição pelos outros e isso pode levar a depressão, isolação, raiva ou hostilidade. Em casos extremos o indivíduo pode ficar altamente sensível e até paranóico.

A fase da recuperação é o aprendizado de como se ajustar efetivamente ao novo ambiente cultural. A resolução do choque cultural reside em aprender como realizar uma adaptação aceitável à nova cultura. Alguns ajustes podem ser encontrados sem que haja adaptação. É o exemplo daqueles que, em momentos de crise, voltam para seus países originais ou daqueles que se isolam em grupos étnicos e mantém o estilo-de-vida com que estão acostumados. Porém, para uma solução efetiva é necessário que haja ajustamento e adaptação: desenvolver habilidades em resolver problemas para lidar com a cultura e começar a aceitar sua forma com uma atitude positiva. A cultura começa então a fazer sentido e as reações negativas passam a ser reduzidas conforme o indivídio reconhece sua inabilidade de entender, aceitar e se adaptar. O ajuste é lento e requer vários ciclos de crise e adaptação.

A fase da aculturação é alcançada quando consegue-se desenvolver uma adaptação estável em resolver com sucesso problemas e gerenciar a nova cultura. A total assimilação de uma cultura é difícil senão até impossível porém, conforme o processo de aculturação avança, é comum que mudanças substanciais aconteçam com o indivíduo conforme ele desenvolve uma identidade bi-cultural. A aculturação não significa abandonar seus modos antigos ou perder sua identidade cultural anterior mas sim a ciência pessoal e construtiva para ter respostas culturais e pessoais que se encaixem no novo ambiente.

Existem quatro motivos que levam ao choque cultural. São eles:

1.Stress
2.Fatiga cognitiva
3.Choque de papéis
4.Choque pessoal

O stress acontece pela própria exposição ao novo ambiente e pelos seus subsequentes impactos psicológicos. Em choques culturais são comuns preocupações exageradas com doenças, sentimentos de estar fisicamente debilitado, preocupações com sintomas, pequenas dores e desconfortos. Tudo isso pode ser capitalizado por fatores psicossomáticos e por reduções da eficiência do sistema imunológico devido ao próprio stress.

A fatiga cognitiva é consequência de uma sobrecarga de informações. A nova cultura requer um esforço consciente para entender as coisas que normalmente são processadas inconscientemente em sua própria cultura. Esforços são feitos para interpretar os significados de uma nova língua mas também dentro de contextos não-verbais, comportamentais, contextuais e sociais das comunicações. Essa mudança de uma interpretação inconsciente dentro da sua própria cultura para um cenário onde o esforço e a atenção constante são necessários para processar tudo que acontece ao seu redor é fatigante e pode resultar e fatiga mental e emocional.

O choque de papéis acontece quando o papel do indivíduo é perdido na nova cultura. As mudanças dos papéis sociais e das relações interpessoais afetam o bem-estar e o sentido de auto-conhecimento do indivíduo. No novo ambiente cultural os antigos papéis são eliminados e substituídos por papéis desconhecidos e por conjuntos de expectativas. Isto leva ao choque resultante da ambiguidade da posição social do indivíduo, da perda de relações sociais e seus papéis considerados normais e do surgimento de novos papéis que são inconsistentes com o antigo auto-conceito do indivíduo.

O choque pessoal inclui a perda de intimidade pessoal e a perda de contatos interpessoais com pessoas significativas. As disposições psicológicas, auto-estima, auto-identidade, sentimentos de bem-estar e a satisfação com a vida são todos criados e mantidos dentro do sistema cultural. A perda deste sistema de suporte pode levar a deterioração dos sentidos de bem-estar de um indivíduo e até a manifestações patológicas assemelhadas à psicoses e paranóias que são classificados como “neuroses transientes” ou desordens emocionais temporárias. O choque pessoal é capitalizado quando a nova cultura viola os sentidos pessoais e culturais do indivíduo no que diz respeito a valores morais, lógicos ou de crenças a respeito da normalidade e civilidade. Conflitos de valores contribuem para um senso de desorientação e irrealidade, aumentando o sentimento de inaptabilidade do indivíduo com o seu meio.

Fonte: Cultural Shock and Adaptation

Ouvi pela primeira vez da Susana...e estou investigando se no meu caso isso se encaixa...KK

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